Luis Felipe Miguel
O desempenho de Dilma no Senado foi impressionante. Os chatos de plantão podem estar reclamando que não perfeito - mas o que é perfeito nesse mundo, fora os concertos para violoncelo de Bach e algumas gravações do quinteto de Miles Davis nos anos 1950? O que importa é que ela foi firme, foi inteligente, foi clara, desmontou os pretextos do golpe e expôs sua trama para qualquer um que a tenha ouvido. Enfrentou uma maratona que eu não sei quem mais aguentaria.
Acima de tudo, Dilma esbanjou uma qualidade que não apenas é rara, mas causa desconforto na elite política brasileira: dignidade. E foi emocionante ver como, diante de seus inquisidores, muitos deles cínicos e desqualificados, essa qualidade não deixou de brilhar.
Dilma não chutou a pau da barraca, não fez o circo pegar fogo. Não seria mesmo do feitio dela. Mas se credenciou como referência central da luta ao golpe. Deixou claro que não podemos aceitar o governo do usurpador como algo natural: sua ilegitimidade contamina todo o sistema político brasileiro e destrói nossa democracia. É um recado que deveria ser ouvido por tantos candidatos do PT ou de seus partidos satélites que estão julgando que, para melhorar suas chances nas eleições municipais, é talvez conveniente calar sobre o golpe.