Dilma enfrenta o tribunal de exceção pela segunda vez

Luis Felipe Miguel

Hoje, Dilma Rousseff vai ao Senado para, uma vez mais, ser "julgada" - e as aspas sinalizam que é de novo um julgamento que despreza a justiça.

Ela não é mais a jovem idealista que enfrentou a ditadura militar. É uma mulher madura que aceitou entrar na disputa política tal como ela é, com seu jogo de acertos e concessões. Como tantos outros, achou que esse era o inevitável preço a pagar para mudar o Brasil.

Mas, para o Brasil que não quer ser mudado, que é o Brasil dos que ganham com nossa miséria e nosso atraso, não há negociação possível. Por isso, o experimento de avanço social que começou com Lula e que Dilma prosseguiu, que para tantos de nós era tão tímido e insuficiente, aparecia como intolerável. A farsa do impeachment é simplesmente a oportunidade que surgiu para encerrá-lo e revertê-lo.

Em suma: Dilma não está sendo punida por seus erros. Está sendo punida por todas as vezes em que tentou acertar.

Se eu tivesse o poder de influir em sua fala de hoje, diria - seguindo o que várias pessoas já têm apontado - para ela aproveitar a vantagem que é não ter nada a perder. O Senado não vai restituir o mandato que lhe foi usurpado. Assim, Dilma está livre para fazer um depoimento sincero e expor a podridão da elite política e empresarial brasileira. E pode fazer isso porque tem uma segunda vantagem diante de seus "juízes": podemos lhe atribuir todos os equívocos do mundo, mas é impossível não reconhecer que ela é uma pessoa honrada. Nesse momento, essa qualidade moral é bem mais importante do que os talentos retóricos que ela não domina. Seu discurso diante do tribunal de exceção não será avaliado como peça de oratória, mas pela força que tiver sua denúncia da conspiração contra o povo brasileiro.

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