O dream team do crime |
Começa a semana de consolidação do golpe. Dilma vai amanhã enfrentar a matilha de senadores. Espero que seja firme denunciando a farsa que é seu julgamento. O resultado certamente não vai mudar; não há o que esperar de uma casa estrelada por Aécios, Anas Amélias, Anastasias, Aloysios, Barbalhos, Caiados e Cristovams - fiquei só nas três primeiras letras do alfabeto, para não me estender demais.
Sacramentado o golpe, vai haver um esforço de "normalização". A mídia vai tratar Temer como "presidente", fazendo sumir as circunstâncias que o levaram ao cargo. A ansiada viagem à China serve também para isso. Assim como as eleições municipais, com o silêncio conivente de muitos candidatos oportunistas que deveriam estar à esquerda, mas vão jogar o jogo do apagamento da interrupção do nosso experimento democrático.
O embotamento da cidadania na resistência ao golpe serve de incentivo para que o governo do usurpador avance em sua pauta retrógrada. Ao final de seu mandato, se tudo der certo (para eles), estaremos com uma legislação trabalhista "optativa", aposentadoria post-mortem, o patrimônio nacional cedido para os ianques amigos do Serra e o Estado brasileiro impedido por lei de fazer investimento social.
Mas chegaremos a 2018. O figurino dos golpes brandos exige que se finja que a democracia permanece. Para evitar surpresas desagradáveis, é necessário impedir a candidatura de Lula, o que está novamente em marcha, com o indiciamento no caso do apartamento. Como bem lembrou Janio de Freitas, não se trata apenas do ressurgimento do caso em momento suspeito, pelas mãos de um delegado mais do que suspeito: "Os procuradores da Lava Jato pediram 90 dias para fazer a denúncia dos indiciados. Três meses? Um inquérito com as peças que justifiquem o indiciamento não precisa de tanto prazo para a denúncia". Ainda mais, acrescento eu, num caso ao qual já dedicaram tanto esforço de investigação em tanto tempo.
Não é fácil cassar os direitos políticos de Lula - é por isso que eles continuam tateando, ensaiando, testando, mas não conseguiram chegar lá. Mesmo que consigam, 2018 é um enigma. Esse negócio de voto é um problema, porque sempre há o risco do povo escolher alguém que os dominantes não queriam. O que os golpistas desejam é que quem quer que ganhe tenha entendido o recado: o Brasil tem dono. A continuidade no cargo não depende do voto, depende deles.
Se nós não formos capazes de lutar contra isso - de derrotar o golpe depois da nossa derrota no Senado, na próxima quarta-feira - permaneceremos com esse simulacro de democracia, num país que se tornará cada vez mais injusto.