A americanização do Brasil

Nilson Lage

A moça vestiu um colante apertado com o desenho e as cores da Bandeira e se agachou diante da câmera, expondo os fundilhos que, por acaso ou como programado, rasgaram, mostrando, por décimos de segundo, o mesmo que mostraria em mim, na caríssima leitora ou na rainha da Inglaterra.

Um menino de colégio, na hora, talvez, achasse graça. Gente de boa-fé teria pena da infeliz. As redes sociais, povoadas por infantis marmanjos, rejubilam-se porque a moça, figura disponível da TV, disputou minutos de fama na onda promocional do impeachment de Dilma Rousseff, antes de decair para outros papéis ridículos em programas de auditório de emissoras de segunda linha.

Isso me irrita bastante, não pela exibição proctológica, mas porque me desanima de dizer coisas menos pueris a esses mesmos bobos delirantes.

Na verdade, para mim, tudo é absurdo, a começar pela banalização do que mereceria resguardo, como as sessões plenárias do Supremo Tribunal Federal ou o hino de Francisco Manuel da Silva, tocado a torto e a direito, entre urros das arquibancadas, em jogos de borrabotas com viralatas. 

Venho de antes da americanização do Brasil. Sou apenas um velho de uma classe em extinção, para quem a Bandeira Nacional é símbolo augusto que nos deve trazer à lembrança a grandeza da Pátria – aquele pano que, quando o povo o conduz em seu direito, devemos todos contemplar com respeitoso afeto,

Foi assim que me ensinaram e lamento que não mais seja.

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