Não há o que se comemorar no dia do professor


Observações rápidas sobre o Dia do Professor
Luiz Antonio Simas 

- O magistério não é um sacerdócio. O discurso neste sentido ferra o professor e legitima a ideia de que devemos mesmo trabalhar em condições adversas e aceitar as coisas como cordeiros mansos, em nome de certa "missão de ensinar". Magistério é carreira profissional e o professor deveria ser dignamente valorizado pelo exercício de suas funções. Quem quer exercer sacerdócio, virar guru, conduzir multidões ao saber iluminado, deve procurar o templo mais próximo. 

- O professor que se acha detentor do saber é uma besta. O professor que, por sua vez, viaja no populismo barato de achar que apenas quem ensina para ele é o aluno, também escorrega na demagogia mais rasteira. O jogo é de mão dupla. Proporcionar a circulação dos saberes e despertar a curiosidade das alunas e alunos para a aventura do conhecimento me parece ser a base da nossa função. 

- A escola no Brasil está em crise. O discurso de que o ensino deve formar o cidadão pleno se choca com a gritante tendência - ampla - de se encarar a escola como uma instância domesticadora de gentes para os currais implacáveis do mercado de trabalho. 

- A interação nas escolas se estabelece entre pessoas como visões de mundo e culturas diferentes. Não há detentores do monopólio do saber, da inteligência, da beleza estética ou da verdade. Nós temos que nos lembrar disso o tempo todo.

- Um indivíduo e um grupo de pessoas podem sofrer um dano irreversível se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem degradante, limitada e depreciada sobre eles. A escola ocidental é um braço do colonialismo e elemento fundamental da domesticação dos corpos para a contenção dos desejos e a adequação à lógica do relógio de ponto. Como lidamos com isso?

- As sociedades contemporâneas são complexas e heterogêneas. A escola deve pensar permanentemente o convívio entre diferentes com direitos correlatos. Só que ela não pensa e faz o inverso: tenta uniformizar padrões curriculares e comportamentais.

- Não há o que se comemorar no dia do professor. A proletarização do magistério é uma tragédia. Neste processo o profissional tem que virar uma espécie de malabarista para sobreviver, mergulhado em uma realidade em que o ensino público continua precário - e deve piorar - e o ensino privado não raro pensa o colégio exclusivamente como empresa e a educação como campo de reprodução de comportamentos cordatos para o mercado de trabalho. 

- A médio prazo a tendência é a de que não exista universidade pública no Brasil.

- Em 15 de outubro de 1827 o Imperador D. Pedro I criou, por decreto, as "Escolas de Primeiras Letras". Eis aí origem do babado.

- Eu amo a minha profissão e ela está morrendo. Morte matada. Não tem futuro próximo no país desencantado. Mas continuarei nas escolas, nas ruas, nas praças, botequins e terreiros onde tenho trabalhado.

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