Luis Felipe Miguel
Aprovada a PEC, o "mercado" comemora. Parece que não comemora tanto, dizem os analistas, porque queria um placar ainda mais elástico, que indicasse que a reforma da Previdência também será aprovada. Se precisasse de alguma coisa para antipatizar com o tal mercado, bastava essa: quanto mais o povo se ferra, mais ele comemora.
Lendo o trabalho de uma aluna, encontrei uma citação de Miriam Leitão, sobre "o que eles definem como mercado, mas que é a realidade". O bom desse tipo de discurso bisonho é que ele nos apresenta a
ideologia em estado puro, sem disfarces. De fato, o que se deseja é que o mercado seja visto como uma realidade à parte, objetiva, com estatuto similar ao mundo natural, ou seja, incontrolável pelos seres humanos - e não como um conjunto de relações sociais, nas quais alguns poucos são capazes de extrair enormes vantagens às custas de todos os outros. Ao mesmo tempo, o mercado deve aparecer como toda a realidade, apagando quaisquer preocupações que não se curvem à sua lógica.
Ao afirmar que o mercado "é a realidade", o que se busca é evitar que se investigue qual é a realidade do mercado.