Luis Felipe Miguel
Ontem de tarde, o site da Folha publicou declarações do Eliseu Padilha defendendo o uso das forças armadas para reprimir manifestações de rua. Curiosamente, o jornal de hoje ignorou o assunto, exceto por uma frase de Raimundo Bonfim repudiando o ocupante da Casa Civil, na coluna "Painel".
Padilha usa o velho discurso da defesa da ordem, acrescentando apenas o toque de indigência intelectual que caracteriza o governo golpista: "A questão da ordem e do progresso é o que está fazendo com que o governo federal esteja enviando ao Rio Grande do Norte, ao Espírito Santo e ao Rio de Janeiro as Forças Armadas e a Força Nacional para manterem a ordem e, com isso, garantir o progresso".
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Prosseguiu com a distinção entre "diálogo" e "baderna", que é a senha para fazer ameaças pouco veladas: "O movimento que quiser dialogar, dialogue. Mas o movimento que quiser fazer baderna a gente tem que colocar a ordem".
O tom das declarações de Padilha faz lembrar outra personagem inglória da história brasileira recente, o general João Figueiredo. Ele também aceitava "diálogo", mas não "baderna", e garantia para si o direito de dizer o que entrava em cada categoria. E quem não quisesse diálogo, Figueiredo concluía, "eu prendo e arrebento".
No caso de Figueiredo, essa tensão entre ter que aceitar protestos e ao mesmo tempo limitá-los e reprimi-los derivava da conjuntura política. A ditadura estava se desmanchando e o país caminhava, a passos incertos, para a democracia.
Creio que a posição de Padilha também se explica pelas circunstâncias. Mas com uma diferença. Agora é a democracia que está se desmanchando. Para onde caminhamos?