É hora de peitar os fascistas

Luis Felipe Miguel

Cena 1: reagindo a um articulista de jornal que lhe fazia críticas severas, mas educadas e com conteúdo político, o prefeito de São Paulo reage com uma cartinha cheia de impropérios, que foge de qualquer debate e termina com um "vai para Curitiba".

Cena 2: ameaçado por denúncias de uso de caixa dois que podem destruir seu mandato já no início, o vereador novato que sonhava ser a estrela da nova direita decide passar à ofensiva e vai assediar professores em sala de aula, dizendo estar fiscalizando a "doutrinação ideológica".

Cena 3: falando para uma plateia seleta, mas sabendo que seu discurso repercutiria para muito além dela, o deputado neofascista desfia as bravatas de costume, lança ameaças contra vários grupos e sobe o tom no conteúdo racista de seu discurso.

As três cenas ocorreram nos últimos três ou quatro dias. Não vou dizer que tenham sido combinadas - certamente não foram. Mas tampouco são coincidência. São todas demonstrações da forma de agir que a
direita brasileira escolheu e cujas características são a violência verbal (que sempre insinua que está a ponto de se transformar em violência física) e a tentativa de intimidação.

Em Bolsonaro, este modus operandi já está tão incorporado que parece natural. Nos outros dois, ainda fica com cara de coisa ensaiada. Doria decidiu introduzir esses arroubos de agressividade como forma de "humanizar" sua figura de boneco de plástico comandado por marqueteiros - ou, melhor, os marqueteiros decidiram introduzir esses arroubos de agressividade para "humanizar" o boneco de plástico que eles comandam. Graças ao escândalo do financiamento de sua campanha, Holiday ficou desprovido do moralismo pequeno-burguês como plataforma e decidiu investir na ameaça comunista gayzista como substituição. Atravessou vários sinais ao entrar nas escolas para ameaçar os docentes, mas entende que é isso que sua base quer, um justiceiro acima da lei. Não são assim todos os heróis da nossa direita?

O fato de que essas personas belicosas e incapazes de debate sejam ativamente perseguidas por políticos em busca de popularidade é um triste sintoma do grau de deseducação política em que estamos mergulhados. Do nosso lado, creio que temos que continuar combatendo com ideias, mas também demonstrando com firmeza que a intimidação deles não vingará. As ameaças de Bolsonaro, Doria e Holiday, em vez de nos calar, devem nos estimular a falar mais claro e mais forte.

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