Luis Felipe Miguel
Os dois desfechos possíveis para a crise são: (1) a limpeza seletiva da elite política, com a implosão do PT e o sacrifício de alguns líderes da direita, a fim de que os sobreviventes possam repactuar o jogo de sempre; ou (2) a emergência de um salvador, com programa autoritário, que assume a tarefa de decidir quem fica e quem sai e de definir a repactuação do jogo de sempre.
Acredito que o desfecho 1 é o mais provável, mas o 2 (ou algo do 2) não está descartado.
O que não aparece no horizonte é a possibilidade de
uma transformação profunda, que ataque os problemas centrais, vinculados à promiscuidade dos poderes da República com os interesses das minorias dominantes (que passa pela corrupção, mas nem de longe se limita a ela). Isso significaria mexer a fundo na relação entre poder econômico e poder político e pensar em reconstruir por inteiro o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Convém não esquecer do Judiciário.
Mas esse não parece ser um desfecho possível.
O sistema político brasileiro está tão apodrecido que não parece ter como se regenerar de dentro. O que restava da sua legitimidade foi minado com o golpe de maio e agosto de 2016. A mudança possível teria que vir de fora - não da pretensa pressão da mídia, que é parte acessória do sistema; não de promotores ou juízes moralistas, voluntária ou involuntariamente cegos aos elementos estruturais do problema; não do mero discurso punitivo. Teria que vir de uma reação popular, dos movimentos sociais. Teria que ter um caráter efetivamente revolucionário.
Mas esse não parece ser um desfecho possível.