A Falha se superou na capa de hoje. Assumiu sua posição como braço armado da propaganda do governo do usurpador.
A discussão sobre a Previdência Social no jornalismo brasileiro merece um estudo. A questão é sempre tratada no âmbito dos cadernos de economia, já direcionando seu enquadramento: um problema contábil, não uma questão de direitos.
A partir daí, apresentam-se "fatos" que seriam verdades absolutas. Primeiro, que a Previdência Social brasileira é deficitária e insustentável. Depois, que a culpa por essa situação é do excesso de direitos concedidos por ela.
As pesquisas - sérias - que contestam tais "fatos" não são levadas em conta nem para serem rebatidas. A crer nas informações fornecidas pelos jornais, há um consenso absoluto sobre a crise da previdência e seus motivos. Se há uma situação insustentável e suas causas são conhecidas e consensuais, então quem se opõe às medidas para resolver o problema (isto é, a "reforma da Previdência") só pode ser um mau brasileiro, movido pelo egoísmo.
No entanto, nenhuma dessas posições é isenta de contestação.
É possível observar que uma parte não negligenciável do déficit da Previdência se deve às manobras de evasão fiscal, incluída aí a sonegação pura e simples, das empresas brasileiras. O combate à sonegação, no entanto, nunca entra na lista das medidas necessárias.
É possível pôr em dúvida o déficit. O déficit é calculado como sendo a contribuição recolhida na folha de pagamento menos os benefícios pagos). Mas a Constituição prevê outras fontes de financiamento da Previdência, desde arrecadação de impostos até receita de loterias. Se todas as receitas constitucionais são incluídas na conta, o déficit some. É o que diz a tese de doutorado de Denise Gentil (documento em PDF AQUI)
E é possível também sustentar que, por seu caráter de direito social, seus efeitos redistributivos, sua importância na economia dos municípios do interior, a Previdência não deve ser discutida apenas sob a ótica do equilíbrio atuarial.
Nada disso, é claro, aparece na Folha. O que temos é a velha ladainha da Previdência quebrada e, como bônus, a apresentação do governo golpista como última esperança de salvação do Brasil.