O QUE DÓI É QUE ELES SÃO POBRES (III)
(Os vira-latas da classe dominante)
George Bernard Shaw, o dramaturgo, ativista, romancista e pensador irlandês, afirmou que “nunca espere que um militar pense”, o que se transformou em slogan, na América do Sul, no período das ditaduras militares.
Hoje, plagiando Shaw, poderíamos dizer “nunca espere que um coxinha pense”.
Para eles é muito difícil entender que os interesses dos grandes empresários da Fiesp não são os mesmos interesses dos trabalhadores.
Mais difícil ainda entenderem que os interesses do agronegócio exportador, dos latifundiários, não são os mesmos interesses dos pequenos produtores, que produzem para o mercado interno.
Jamais passaria pela cabeça deles que os interesses do mercado financeiro não são os mesmos interesses do sistema produtivo.
Mas vestiram-se com a camisa da CBF, tiraram as panelas das prateleiras e foram para as ruas, defenderem as bandeiras da Fiesp, dos latifundiários e do mercado financeiro.
Continuam discutindo corrupção, assunto único para os que só entendem de roubo, aprendido no sensacionalismo televisivo e nos jornais populares, prisioneiros das curtas idéias.
Não que o assunto não mereça atenção, mas com a clareza de que é usado espertamente como cortina para esconder coisas maiores.
O novo governo mandou para o Congresso a proposta de congelar investimentos e despesas públicas por 20 anos, o que quer dizer que daqui a 15 ou 20 anos teremos o mesmo número de leitos hospitalares para uma população que terá crescido, o mesmo número de vagas em escolas públicas, para uma população que terá crescido, a mesma quilometragem de rodovias para uma frota automotiva que terá crescido, os mesmos salários de hoje, corrigidos abaixo da inflação acumulada...
Mas, para os coxas, o negócio é discutir corrupção.
Usando o discurso de herança maldita, de déficit astronômico, para o público leigo, e afirmando terem recebido as contas equilibradas, no exterior e aqui mesmo, para os empresários e o mercado financeiro, acenam com a possibilidade de aumentar as alíquotas dos impostos e criarem impostos novos, mas sempre na ponta, no consumo, aliviando as empresas e empresários, jogando a conta nas costas do povo.
Taxar as grandes fortunas, o mercado financeiro, as grandes heranças as entidades religiosas não cogitam, como não cogitam estender a cobrança de IPVA aos proprietários de iates, jetskis, helicópteros, jatinhos executivo... O programa Minha Casa Minha Vida teve cortes nas suas faixas inferiores, para construções de baixo custo, e foram criadas faixas superiores, para financiar a construção de mansões, subvencionadas com o dinheiro do FGTS do trabalhador.
Para mais multiplicar o lucro, o governo está propondo uma “reforma” trabalhista, que retira direitos básicos do trabalhador, na verdade acaba com a CLT, na medida em que propugna que o acordado tem prevalência sobre o legislado.
A partir daí qualquer acordo vale, desde o trabalhador abrir mão do seu décimo terceiro salário ou das férias até ter o salário reduzido à metade, em negociações honestas, do tipo aceita ou é demitido.
Mas os alienados estão preocupados com corrupção, exclusivamente.
Há ainda a reforma da Previdência, da Educação e do SUS, onde se prevê aposentadoria por idade mínima (65 anos), o fortalecimento da aposentadoria complementar, transformando a Previdência Social em complementar, invertendo o processo, a redução do universo de atendimento do SUS, com o fortalecimento dos planos médicos privados, a privatização da universidade pública...
Sozinha a classe dominante não tem como impor essas medidas, altamente lesivas ao trabalhador, e para isso serve-se da parte alienada dos trabalhadores, edificando os cadafalsos onde serão enforcados.
Sobre os conscientes atiram os inconscientes, como atiçamos os cães, babando de ódio, para defender territórios supostamente deles, mas que são dos seus donos, alimentando-os com a ração do combate à corrupção.