Demétrio Magnoli: "Demóstenes não é mais um comerciante no mercado em que se trafica influência em troca de cargos ou privilégios. Ele tem princípios e convicções." |
Quarta-feira se completam cem anos da Revolução de Fevereiro. A Folha dá página e meia para a efeméride. Uma página é uma reportagem de Igor Gielow, que não esconde seu espanto com a descoberta que houve outra revolução na Rússia, em 1917, antes da Revolução de Outubro. A Revolução de Fevereiro, diz ele, "mal sobrevive às brumas do tempo".
Sim, a Revolução de Outubro é bem mais estudada. Afinal, tratou-se do evento mais
importante do século XX, ao passo que a Revolução de Fevereiro apenas inaugurou um regime parlamentar titubeante que durou poucos meses. Mas dizer que Fevereiro é uma "revolução esquecida", como Gielow faz, é de uma ignorância digna de uma estrela da Folha.
Basta uma amostra da profundidade e sofisticação de sua interpretação histórica: no texto, Lênin é definido como "um déspota cruel".
A outra meia página é dada a ninguém menos que Demétrio Magnoli, para fazer uma "análise" da Revolução de Fevereiro. Parece que foi escolhido a dedo para confirmar o que Gielow dizia antes: Magnoli praticamente esquece da Revolução de Fevereiro no artigo. Ele se dedica a explicar porque os bolcheviques eram os vilões (deram origem a uma "distopia totalitária") e os mencheviques, os mocinhos ("inspiraram a social-democracia").
Desconhecimento da história, adesão acrítica a clichês, simplificação de fenômenos complexos, substituição da argumentação pela adjetivação: Gielow e Magnoli oferecem hoje um belo panorama do que é o trabalho da nossa nova intelligentsia de direita.